segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Nossa solidariedade à luta em defesa do Velho Chico - MST

Estimado amigo e amiga do MST,

Nossa total solidariedade ao protesto do bispo Dom Luiz Flávio Cappio, quehá mais de dez dias está em jejum contra o projeto de transposição do RioSão Francisco. Um brasileiro comprometido e corajoso. Queremos socializara carta que a Via Campesina lançou esta semana em apoio à luta do bispo.(Segue abaixo na íntegra).No último dia 4, a Via Campesina e o Fórum Nacional de Reforma Agrária e Justiça no Campo entregaram duas cartas ao secretário-geral da ConferênciaNacional dos Bispos do Brasil (CNBB), D. Dimas Barbosa, que se comprometeu com a luta do frei Cappio e disse que vai se empenhar no diálogo com o governo federal. Essa não é primeira vez que o bispo Dom Luiz toma uma atitude extrema para defender os pobres. Em 2005, na tentativa de barrar o projeto detransposição, ele passou 11 dias em jejum, em Cabrobó, Pernambuco. Para Cappio, a transposição tornou-se um projeto injusto, uma vez que, “esse projeto de transposição não é para 12 milhões de pessoas, é para um pequeno grupo interessado no capital, nas grandes empresas, não é para o povo”.
Clique aqui para ler na íntegra a entrevista.
Para nós do MST, o gesto de Dom Cappio reflete a luta empreendida pelos movimentos sociais do campo contra o agronegócio e o hidronegócio no Brasil, que destroem o meio ambiente, a biodiversidade e desabrigam milhares de trabalhadores rurais, quilombolas, indígenas e comunidades ribeirinhas. Várias aldeias indígenas podem desaparecer apenas com aconstrução do canal do eixo leste da transposição.

Exigimos do governo federal a imediata paralisação das obras de transposição, e o início de um amplo diálogo com a sociedade civil nabusca de concretizar alternativas para um outro Semi-Árido possível.

Saudações,
Secretaria Nacional do MST



Via Campesina Brasileira

Prezado D. Luiz,

A Via Campesina Brasileira, composta pelos movimentos sociais do campo e entidades - MAB, MPA, MMC, MST, FEAB, PJR, CIMI, QUILOMBOLAS, CPT -, reunida em sua plenária nacional, em Goiânia, vem solidarizar-se e somar-se ao seu gesto contra a transposição do rio São Francisco.
Sabemos também que é um gesto em favor de um desenvolvimento harmônico com o semi-árido brasileiro, defendendo a democratização da água através das adutoras propostas pela Agência Nacional de Águas (ANA), no Atlas do Nordeste, apoiando a captação da água de chuva para beber e produzir pelas comunidades rurais, apoiando a revitalização do rio São Francisco, reafirmando nosso compromisso com uma reforma agrária que vem tardando, mas nunca perde seu significado.
As obras do Atlas e as iniciativas da Articulação do Semi-árido podem beneficiar 42 milhões de Nordestinos, quase quatro vezes mais que os 12 milhões alardeados pelo marketing do governo.
Na verdade, a Via Campesina vê no seu gesto a nossa luta contra o agro e hidronegócio em todo o território nacional. Vemos no seu gesto a nossa defesa da terra, da água e da biodiversidade como bens do nosso povo. Sabemos que por detrás da transposição estão grandes interesses econômicos nacionais e internacionais, que são os mesmos que estão interessados nas usinas do rio Madeira, na produção em massa de etanol, nas nossas florestas, nas demais riquezas naturais de nossa nação.
Os mesmos que se apossam das riquezas naturais do Brasil, apossam-se também das riquezas da América Latina e das demais regiões do planeta.Por isso tudo, o significado de seu gesto é maior do que o senhor mesmo. Ele sinaliza a angústia de quem vê nossas riquezas serem depredadas e roubadas séculos após séculos por uma elite egoísta e indiferente aos destinos de nosso povo. De grande em grande obra o Nordeste continua com um dos piores índices de desenvolvimento humano do planeta.
Queremos o investimento em infra-estrutura descentralizada, que respeite o meio ambiente, que beneficie e contribua com o povo pobre, não com os velhos e novos coronéis de sempre.
Apesar da propaganda oficial, a transposição não criará as condições de acesso à água para os camponeses mais necessitados do semi-árido, mas fornecerá, sim, água subsidiada pelo povo brasileiro para as grandes empresas do agronegócio do Nordeste.
Irmão D. Luiz, receba nossa solidariedade fraterna. Vamos transformá-la em luta prática e em um chamado a todo o povo, por todo o território nacional, mostrando à sociedade e ao governo federal que sua luta é nossa luta: a busca por um país justo, soberano e ambientalmente sustentável.
Tenha a certeza de que estamos ao seu lado, atuando em todo o Brasil, em defesa da sua vida, que hoje se integra totalmente com a própria vida e destino do rio São Francisco. Seu gesto significa um ato de amor pelo povo e pelo nosso país.

Goiânia, 29 de novembro de 2007.

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
Movimento de Mulheres Camponesas – MMC
Pastoral da Juventude Rural – PJR
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Conselho Indigenista Missionário – CIMI
Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB
Quilombolas

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