terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Mas o povo desconfia

por Cynara Menezes, de Sobradinho (BA)

O bispo Luiz Cappio vira símbolo da resistência à transposição do São Francisco

A capela onde o padre jejua agora é local de protestos ©João Zinclar

No dia 27 de novembro, dom Luiz Flávio Cappio, bispo de Barra (BA), acordou cedo, tomou café, comeu um pão com manteiga e um pedaço de mamão e entrou em greve de fome pela segunda vez contra a transposição das águas do rio São Francisco. Duas semanas depois, o frei está sentado do lado de fora da pequena capela de São Francisco, no município baiano de Sobradinho, cercado de integrantes de movimentos sociais e beatas. Tem as faces coradas e semblante sereno, bem distante do aspecto esmaecido de um famélico. Para os seguidores de Cappio, trata-se de “milagre” à altura de um padre Cícero ou de um Antonio Conselheiro. Outros olham para o bispo com desconfiança, entre rumores de que se alimenta às escondidas.
Há 33 anos atuando no Sertão brasileiro, o franciscano Cappio, discípulo de Leonardo Boff, deve compreender que, depois de dois séculos de promessas descumpridas, verbas desviadas e obras inacabadas, o nordestino tem razões de sobra para suspeitar de qualquer um, inclusive dos homens da Igreja, santos ou não. Sobre o que não paira dúvida é que o principal argumento do bispo contra a transposição seja legítimo. Se ao longo da história da seca no Nordeste os únicos a não sofrer, mas a lucrar com ela, foram os grandes proprietários de terra, como acreditar que desta vez será diferente?

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