segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Governo Lula ataca frei Cappio

por jpereira — Última modificação 10/12/2007 17:27

Em artigo, o ministro Geddel Lima (Integração) acusa o religioso de ser“inimigo da democracia” e praticar “terrorismo simbólico”; RobertoMalvezzi, da CPT, rebate:
“quem é antidemocrático, o frei ou o governo,que não abriu possibilidades de debate?”

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/especiais/especial-sao-francisco/governo-lula-ataca-frei-cappio

Tatiana Merlino da redação

Passados 14 dias desde o início da greve de fome de frei Luiz Flávio Cappio, o governo federal subiu um tom nas críticas ao religioso. Artigo do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, acusa frei Cappiode ser “fundamentalista” e “antidemocrático”.

O ataque, publicado na Folha de S. Paulo sob o título “O inimigo número 1da democracia”, ocorre logo após uma romaria reunir seis mil pessoas emSobradinho, em apoio a frei Cappio e contra a transposição (leiareportagem).

“Quando numa democracia uma pessoa opta por fazer uma greve de fome e colocar sua vida em risco é porque não lhe resta nenhuma alternativa.
Assim, perguntamos: quem é antidemocrático, o frei ou o governo, que nãoabriu possibilidades de debate?”, questiona o coordenador da ComissãoPastoral da Terra (CPT), Roberto Malvezzi, o Gogó, em entrevista ao Brasilde Fato.

Em outubro de 2005, o religioso interrompeu uma greve de fome de 11 dias após o governo se comprometer a abrir um diálogo amplo sobre as alternativas de desenvolvimento para o Semi-Árido e a revitalização do rio São Francisco. Enquanto isso, o projeto da transposição seria interrompido. No entanto, o governo decidiu iniciar as obras em 2007, com soldados das Forças Armadas. Frei Cappio, então, retomou sua greve de fome. “A resposta do governo foi o Exército”, afirmou o religioso, em vídeo (veja aqui).

Autoritarismo

No artigo publicado pela Folha, Geddel Vieira Lima afirma que o gesto do religioso é “radical” ao tentar impor “uma vontade individual à decisão de um governo legitimamente constituído”. Gogó, da CPT, acredita que o texto reflete a posição intransigente do governo desde o início da obra: “Eles não assumem seu papel autoritário, e quando surge alguém que se opõe ao projeto, tentam transferir esse autoritarismo”.

De acordo com o texto do ministro, “Cappio toma emprestada a aura simbólica de sua condição religiosa para colocá-la a serviço de uma militância política baseada num fundamentalismo que só entende a rendição incondicional como resposta. Fundamentalismos (...) são o inimigo público número 1 da democracia”. No texto, o ministro afirma que: “Atropelar os ritos, desprezar o diálogo e ignorar as instituições, numa democracia, é pecado capital”.

Na carta que enviou ao presidente Lula para anunciar a greve de fome, frei Luiz afirma que a motivação do início da sua segunda greve de fome foi exatamente o “desprezo ao diálogo” que Geddel acusa o frei: “Protocolei no Palácio do Planalto documento solicitando a reabertura e continuidade do diálogo, e que fosse verdadeiro, transparente e participativo. Sua resposta foi o início das obras de transposição pelo Exército brasileiro. O senhor não cumpriu sua palavra. O senhor não honrou nosso compromisso. Enganou a mim e a toda a sociedade brasileira”, disse o bispo em carta.

No artigo publicado hoje, Geddel também afirma que “todo governo tem que levar em conta o que pensa a sociedade.....Governos não são feitos para serem unânimes, em que pese o forte apoio que há ao presidente Lula e à transposição.

Governos são feitos para serem legítimos”, disse. Gogó rebate: “Ele está partindo do entendimento de que como o povo elegeu o Lula eles têm legitimidade para fazer qualquer coisa. Temos propostas muito melhores para o Semi-Árido e nem assim conseguimos abertura de diálogo”, critica.
Para ele, o governo não sabe lidar com pessoas éticas como frei Luiz Cappio. “eles acham o quê? Que estão lidando com políticos ou empresários com quem fazem acordos e conchavos?”.

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