sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O Semi-Árido Brasileiro


A área do Semi-Árido do Brasil foi delimitada pela EMBRAPA, em 1991, compreendendo o conjunto de suas unidades geo-ambientais onde ocorre vegetação dos diferentes tipos de Caatinga.

O Semi-Árido Brasileiro se estende por uma área que abrange a maior parte dos Estados da Região Nordeste (86,48%), a região setentrional do Estado de Minas Gerais (11,01%) e o norte do Espírito Santo (2,51%), ocupando uma área total de 974.752 Km2. Clique no mapa para ampliar a imagem.

Do ponto de vista hídrico, o Semi-Árido é, sobejamente, conhecido por apenas uma pequena parcela da região ter uma média pluviométrica anual inferior a 400 mm.
No Semi-Árido como um todo, essa média sobe para 750 mm por ano. É bem verdade que temos problemas de má distribuição dessa chuva no tempo e no espaço. Mas, de fato, não existe ano sem chuva. Os anos mais secos dificilmente são inferiores a 200mm.(ASA)

PROGRAMAS:

Programa de Formação e Mobilização Social para Convivência com o Semi-Árido: Uma Terra e Duas Águas (P1+2)

Objetivo

O objetivo do P1+2 é ir além da captação de água de chuva para o consumo humano, avançando para a utilização sustentável da terra e o manejo adequado dos recursos hídricos para produção de alimentos (animal e vegetal), promovendo a segurança alimentar e a geração de renda.

O numeral "1" significa terra suficiente para que nela sejam desenvolvidos processos produtivos visando segurança alimentar e nutricional, e o "2" corresponde a duas formas de utilização da água - água potável para cada família do Semi-Árido e água para a produção agropecuária, de forma que as famílias de agricultores e o contingente por elas influenciado vivam dignamente.

Em janeiro de 2007, o P1+2 iniciou sua fase demonstrativa, na qual pretende uma maior interação entre as experiências de manejo produtivo e sustentável da terra e dos recursos hídricos. De maneira participativa, a idéia é desencadear um processo de mapeamento, intercâmbio, sistematização e implementação de experiências.

As atividades propostas para fase demonstrativa do P1+2 atingirão diretamente 96 comunidades de 10 estados (AL, BA, CE, MA, MG, PB, PE, PI, RN, SE), onde serão construídas 144 tecnologias de captação de água de chuva para a produção de alimentos. Essas tecnologias, também conhecidas por implementações ou experiências, beneficiarão 818 famílias. (Clique aqui e veja o mapa da área de abrangência)

Os resultados esperados dessa fase servirão como base para, em fases subseqüentes, implantar o Programa 1 + 2 numa escala maior.

Origem

O P1+2 utiliza como referencial o "Programa 1-2-1", desenvolvido na China.

O clima Semi-Árido do Norte da China, mas especificamente da Província de Gansu, caracteriza-se por precipitações irregulares e evaporação alta, imputando a agricultura grande dependência da chuva como fonte de água. Nos últimos anos, o governo da província colocou em prática o programa ‘Providenciando água para uso humano e para animais, desenvolvendo a economia agrícola e melhorando o meio ambiente através do uso de água de chuva’, denominado "Programa 1-2-1".

Este programa conta com o apoio do governo que auxilia cada família a construir uma (1) área de captação de água de chuva, dois (2) tanques de armazenamento para a água captada e uma (1) terra para plantação de culturas comercializáveis.

Até o final de 2002, 1.944.000 tanques de água foram construídos, com diferentes métodos de captação de água de chuva, uma área de 305.000 hectares de sequeiro foi beneficiada, melhorando o uso eficiente da água de chuva e diminuindo a evaporação.

Dinâmicas

Ao contrário das grandes pesquisas científicas para a agricultura, centrada no modelo do agronegócio, na monocultura agroquímica e nos grandes projetos de irrigação, o P1+2 valoriza o conhecimento popular do/a agricultor/a, que durante anos vem mostrando que é possível conviver com o Semi-Árido, por meio de tecnologias simples, baratas e eficientes.

O desenvolvimento do P1+2 origina-se nas dinâmicas sociais, comunitárias e territoriais, estimuladas, fortalecidas e criadas a partir do Programa de Formação e Mobilização Social para Convivência com o Semi-Árido: Um Milhão de Cisternas Rurais – P1MC, desenvolvido pela ASA há alguns anos.

Embora o P1+2 apresente referências da experiência chinesa, a sua construção é inspirada nas dinâmicas do P1MC, fundamentadas na diversidade de experiências de utilização sustentável da terra e dos recursos hídricos, promovidas por famílias agricultoras do semi-árido brasileiro (SAB).

Os marcos conceituais e metodológicos do P1+2 têm como base o modo de atuar dos movimentos sociais, das pastorais de Igrejas e das ONGs, inspirados na Educação Popular, semelhante ao P1MC, contemplando o mesmo caráter de participação, em todas as suas fases, desde a preparação e elaboração até a sua completa implementação.

Assim como o Programa Um Milhão de Cisternas, o P1+2 recupera e valoriza as experiências diversas das comunidades sertanejas nas lutas pela terra e pela água e pelo seu uso racional. Dessa forma, elabora uma outra visão sobre a região, livre e libertadora de preconceitos e mistificações.

Experiências

Existem várias experiências relevantes de captação de água de chuva desenvolvidas no semi-árido brasileiro, na sua maioria por agricultores familiares, que podem ser multiplicadas.

Para a fase demonstrativa do P1+2, trabalhamos com quatro tipos de experiências (também chamadas de implementações ou tecnologias):


Cisterna adaptada para a roça:
É formada por uma área de captação (para captar água das chuvas que escorre dos desníveis do terreno ou de áreas pavimentadas como um calçadão), por um reservatório de água (que deve ser bem maior que a cisterna para o uso humano) e um sistema de irrigação (que pode ser operacionalizado manualmente ou por sistemas de bombeamento e gotejamento). Com a água de uma cisterna de 50 mil litros (outra que não a de consumo doméstico) é possível irrigar um "quintal produtivo" de verduras, regar mudas ou ter água para galinhas e abelhas.


Barragem subterrânea:
Conserva a água de chuva infiltrada no subsolo nas áreas de baixios, fundos de vales e áreas de escoamento das águas de chuva, mediante uma barragem em profundidade cavada até a camada impermeável do solo. Ela tem um grande impacto sobre a estabilidade do sistema produtivo, aumentando a resistência em períodos de seca, quando a área da barragem parece uma ilha verde no meio da caatinga seca. Ela garante a autonomia no que se refere à alimentação, permite a criação de um número maior de animais e diminui a dependência de insumos externos.


Tanque de Pedra:

Eles possibilitam o armazenamento de grandes volumes de água captada nos lajedos, aproveitando a inclinação natural neles existentes. Em alguns locais, é necessário construir paredes ou muretas facilitando a contenção ou o direcionamento da água para os tanques e conseqüentemente maior acumulo de água. É uma das inovações técnicas que tem como base à valorização do conhecimento dos agricultores familiares nas estratégias de uso e gestão da água. O tanque de pedra armazena água para os gastos domésticos, para alimentação animal e irrigação de um "quintal produtivo" de verduras.


Barreiro Trincheira:
São tanques profundos e estreitos, cavados em subsolo cristalino com um ou mais compartimentos e de mais de três metros de profundidade, com fundo e parede de pedra (piçarra), que não deixa a água se infiltrar. Pequenas valetas são construídas para direcionar a água de enxurradas para esses compartimentos. É aconselhado fazer pequenas barreiras de pedras dentro do desvio da água para reter a areia. Por ser estreito e fundo sua superfície de evaporação é menor. O Barreiro-trincheira armazena água para os animais e para irrigação de um "quintal produtivo" de verduras.


Intercâmbios

Estes têm como fundamento a construção do conhecimento a partir de experiências em curso, tendo como pressuposto a socialização e a troca de conhecimentos, de forma horizontal e socialmente construída.

Os agricultores e agricultoras visitam experiências/propriedades na mesma comunidade, município, bem como em estados vizinhos.

Esses momentos de troca são apoiados por instrumentos desenvolvidos para facilitar, potencializar e qualificar a comunicação e o intercâmbio entre os agricultores e as agricultoras, como os boletins de sistematização de experiências.


Sistematizações

A sistematização é uma ferramenta para troca do conhecimento. Ela cumpre importante papel na valorização e na reorganização do saber construído e acumulado localmente, além de promover a geração de novos conhecimentos.

Normalmente apresentada no formato de boletim, as sistematizações contam a história de vida da família e como o conhecimento dela contribuiu no crescimento da propriedade e, conseqüentemente, da sua vida.

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