2/10/2007
As obras estão sendo tocadas a todo vapor", atesta Frei Gilvander Moreira, falando sobre a transposição do Rio São Francisco, em entrevista publicada pelo jornal O TRABALHADOR Judiciário, do SITRAEMG, na edição de 17 a 24/09/2007. Gilvander Moreira é professor de Exegese e Teologia do Evangelho “de” Lucas e Atos dos Apóstolos no Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA) em Belo Horizonte e no Seminário Maior de Mariana.
Eis a entrevista.
Em que estágios se encontram as obras da Transposição do rio São Francisco?
As obras estão sendo tocadas a todo vapor. No Eixo Norte, foi aberto uma grande vala de aproximadamente 1 km de comprimento, iniciada nas margens do Rio – essa escavação será a base para a construção do canal. A largura da vala gira em torno de 100 a 140 metros, com mais de 2 metros de profundidade. Também estão sendo construídas “paredes” de terra que serão as laterais dos canteiros. Muitas retroescavadeiras, patrolas e caminhões movimentam terra e há uma grande área desmatada. O 2º Batalhão do exército, de Teresina, mantém sua base na Fazenda Mão Rosa e o acesso à área da obra está parcialmente impedido. Uma grande área já foi desmatada.
No Eixo Leste, as obras estão sendo executadas em duas áreas: 1) tomada de água na beira da barragem de Itaparica. Aqui foram desmatados mais de 4 hectares de terra. 2) Barragem de Areia de uma distância de 18 km da beira do Rio. Uma grande área já foi desmatada e foi aberta uma grande vala servindo como leito e marcando o eixo da barragem. A barragem terá 3,5 km de extensão e comportará 2,6 milhões de m3 de água. O exercito está alojado na Agrovila 6. Durante o dia impedem a passagem das pessoas que não são da comunidade, controlando a entrada e saída dos moradores. O acesso à área da barragem de areia fica impedido permanentemente. O Batalhão de engenharia que atua neste eixo é de Picos, Piauí. O exército também subcontratou a empresa ENGEPAV.
Que estratégias estão sendo utilizadas pelos Movimentos que lutam contra a Transposição?
Há um trabalho de base, de denúncia do projeto e de aglutinação de centenas de movimentos populares e entidades da sociedade civil que estão revelando a grande farsa que é o projeto de transposição. O projeto divulgado pelo Governo Federal é mentiroso. O Projeto real de transposição, se não for sepultado, atingirá apenas 5% do território semi-árido brasileiro e 0,3 % da população. Apenas 4% da água será destinada à chamada população difusa, 26% serão para uso urbano e industrial e 70% serão para irrigação (criação de camarão -, floricultura e hortifrutigranjeiros) de produtos para exportação.
A CHESF estima que a operação e manutenção do sistema custarão de 80 a 100 milhões de reais por ano. Serão construídas 7 usinas hidrelétricas com capacidade para produzir 175 MW de forma a manter o sistema funcionando.
O que o Nordeste precisa não é de importação de água, mas de uma reforma hídrica eficiente, dentro de um projeto de convivência com o semi-árido e reforma agrária. O custo da água será, no mínimo, cinco vezes maior do que os valores atualmente praticados na Região. Um verdadeiro “presente de grego” para a população dos estados receptores. Está previsto o subsídio cruzado: 85% da receita do projeto será gerada pelos consumidores de água situados no meio urbano das grandes cidades do Nordeste Setentrional. Pagarão para que os empresários do hidronegócio produzam para a exportação.
Faça o seu apelo pessoal para que as pessoas, incluindo os servidores do Judiciário Federal, possam aderir à Campanha contra a Transposição.
Terra + água = Poder. Hoje, somando terra e água, o poder se torna quase absoluto. A transposição do rio São Francisco é exemplo disso. As empresas que controlarem os açudes que vão receber as águas do São Francisco irão controlar todas as águas nordestinas. O controle unificado das terras e das águas constituirá um poder de vida e morte sobre todos os nordestinos. Se terra já é poder, aliada á água, será um poder praticamente absoluto. Lula e demais defensores dessa política se tornaram populistas hídricos despudorados. Mais uma vez na história, em nome da sede do povo, querem concentrar terra e água no Nordeste, agora sob o comando do agro e hidronegócios brasileiro e internacional. Assim, o país das riquezas do século XXI, com sua megadiversidade, água, sol e solos abundantes, vai desenhando sua política de entrega dos bens naturais ao grande capital. Mas, há outro caminho: continuarmos a luta por um autêntico projeto de revitalização de toda a bacia sanfranciscana e por um projeto de convivência com o semi-árido, o que, no campo, passa por 1 milhão de cisternas e mais 140 tipos de tecnologias alternativas e ecológicas. Para as cidades, a Agência Nacional de Águas (ANA) propõe 530 obras para solucionar os problemas de abastecimento hídrico até 2015 em todos os núcleos urbanos acima de 5.000 (cinco mil) habitantes do semi-árido brasileiro. Essas obras beneficiariam as populações mais necessitadas e custariam 3,6 bilhões de reais, portanto, mais baratas, mais abrangentes, mais eficientes que qualquer obra de transposição hídrica. Venha conosco nesta luta! As próximas gerações nos agradecerão muito. Senão, poderemos nos encontrar na fornalha do aquecimento global, onde a água do Nordeste poderá desaparecer totalmente em algumas décadas e o semi-árido, finalmente, seja transformado no deserto que tantos capitalistas desejam.
(www.ecodebate.com.br) entrevista publicada pelo IHU On-line [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS. ]
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