terça-feira, 2 de setembro de 2008
De acordo com povo Truká, a impunidade tem sido grande aliada dos assassinos das lideranças indígenas
Eduardo Sales de Lima
Da Redação
Mozeni Araújo, liderança do povo Truká foi assassinado com tiros na cabeça, na cidade de Cabrobó, localizada a 586 quilômetros de Recife (PE), dia 23 de agosto. Mozeni, que era candidato a vereador, estava em frente ao comitê eleitoral separando alguns cartazes de sua candidatura quando, no momento em que contornava o carro de um amigo, foi surpreendido pelo assassino, Maurício Ricardo Alexandre da Silva. Seu filho adolescente, amigos e militantes, estavam presentes no local.
Pretinha Truká, outra liderança do povo indígena, relatou que o “desconhecido” havia adentrado no Comitê da candidatura de Mozeni por volta das 10h da manhã, pedindo auxílio para obtenção de documentos. Às 16h30 ele retornou e executou o indígena.
O pistoleiro afirmou ao delegado local que o motivo do assassinato foi vingança de um conflito de terras, ocorrido em 1999. O povo Truká não acredita nisso. Segundo Pretinha, ninguém da tribo havia presenciado nenhum tipo de discussão entre Mozeni e Maurício na época. “Ao final, esperamos que ele possa confessar quem foi o mandante para nós conhecermos, de fato, quem são nossos inimigos”, enfatiza a indígena.
Os Truká já levantaram algumas hipóteses que poderiam ter motivado o assassinato. Uma delas está relacionada a plantações ilegais de maconha na região. Outra, seria a candidatura de Mozeni a vereador. “Imagina uma liderança indígena como vereador da cidade (Cabrobó)”, comenta Pretinha Truká.
Uma, duas, três mortes..
Mozenir Araújo foi vereador e atualmente era militante do Partido dos Trabalhadores (PT) e candidato a vereador, com boas chances de se eleger. Também era uma das lideranças na luta pela retomada do território dos Truká, a partir de meados da década de 1990. Desde então, a violência contra o povo indígena foi se intensificando.
Na lista dos agressores, estão fazendeiros, pistoleiros e até policiais militares. Esses últimos estão impunes. Em 30 de junho de 2005, homens à paisana e armados invadiram um galpão onde se realizava uma festa da comunidade, e dispararam contra Adenílson dos Santos, 38, e seu filho Jorge, de 17 anos. Os dois morreram e um outro indígena, de 26 anos, foi baleado. Mozeni era a testemunha principal do caso. “Por várias vezes (Mozeni) denunciou publicamente os criminosos, que até o momento permanecem impunes e ainda estão na ativa”, conta Pretinha.
Reunião dolorosa
Na quarta-feira, dia 27 de agosto, as lideranças indígenas dos Truká realizaram a primeira reunião após o assassinato de Mozeni. “Uma reunião de dor”, lembra Pretinha. A impunidade dos assassinos de 2005 e atual assassinato fez com que os indígenas discutissem uma estratégia própria de segurança, baseada na auto-proteção da tribo. “Quem será amanhã? Vamos pedir proteção à polícia? À Justiça? Decidimos que um deve cuidar do outro”, conta Pretinha sobre o que foi discutido na reunião.
Um Missa de Sétimo Dia será celebrada na Casa de Nossa Rainha dos Anjos no dia 29 de agosto, às 16h. A capela está localizada na Ilha de Assunção, território Truká, no Rio São Francisco. As terras indígenas correspondem a 6.500 hectares, e estão em processo de identificação pela Funai. Segundo o órgão, os Truká terão toda a assessoria jurídica necessária para o caso de Mozeni.
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