“A vida do rio e do seu povo ou a morte de um cidadão brasileiro”
Dom Frei Luiz Flavio Cappio, nasceu em 1946, em Guratinguetá (SP), no mesmo dia em que
é comemoradoo dia do santo que empresta o nome ao rio São Francisco, 04 de outubro.
Dos seus 61 anos, pelo menos 40 se passaram às margens do chamado Velho Chico.
Ainda jovem, deixou a família abastada e tornou-se religioso franciscano, tendo feito estudos
teológicos em Petrópolis (RJ), onde se formou também em Economia.
Recém ordenado padre, no ano de 1974 atuava na Pastoral Operária quando saiu de São Paulo,
apenas com a roupa que vestia, e seguiu para o semi-árido da Bahia. Estava ali afirmada a relação
com a Bacia do rio São Francisco. Em 1997, ordenado bispo da diocese de Barra (BA), na região
do médio São Francisco, foi consolidada a proximidade com o rio e com os ribeirinhos,
de quem tem reconhecido respeito e afeição.
Marcante também na história do frei é a peregrinação que fez, entre os anos de 1992 e 1993,
desde a nascente do rio São Francisco, em Minas Gerais, até a foz, entre os estados de Alagoas e
Sergipe.
Junto com ele estavam três pessoas: Adriano Martins, sociólogo, a irmã Conceição e o lavrador
Orlando de Araújo.
Um pouco desse movimento ecológico-religioso pode ser lido no livro: “O Rio São Francisco,
uma caminhada entre a vida e morte” (Editora Vozes), escrito por Cappio, Adriano Martins e
Renato Kirchner.
Para Dom Luiz o rio São Francisco é "a mãe e o pai de todo o povo, de onde tiram o peixe para
comer, a água para beber e molhar suas plantações — principalmente em suas ilhas e áreas de
vazantes. Mesmo não sendo o maior rio brasileiro em volume d'água, talvez seja o mais importante
do país, porque é a condição de vida da população. Sempre dizemos: rio São Francisco vivo,
povo vivo; rio São Francisco doente e morto, população doente e morta".
Em 2005 fez um jejum de 11 dias, entre 26 de setembro e 05 de outubro, em Cabrobó (PE).
Conhecida como a “greve de fome” em defesa do São Francisco, foi explicada por ele
“como um gesto desesperado, um grito desesperado”. Ele argumentava que ”o que norteia
minha vida é minha fé incondicional” e completava que “quando a razão se extingue,
a loucura da fé é o caminho”.
O resultado foi que milhares de pessoas, em solidariedade, se dirigiram ao local do jejum.
Além disso, organizações, inclusive estrangeiras, assinaram cartas e documentos de apoio.
O ápice aconteceu quando o governo considerou o ato e enviou um negociador,
o ex-sindicalista e ex-ministro, atual governador da Bahia, Jacques Wagner (PT).
O bispo encerrou a “greve de fome” com a promessa, do presidente Lula, de que seria iniciado
um debate amplo sobre o projeto de transposição e a revitalização do rio São Francisco.
O acordo não foi cumprido o que ocasionou uma série manifestações dos movimentos
populares e ações judiciais com o intuito de paralisar a mega obra.
Ao comentar o acordo firmado com o governo, Dom Luiz afirmou publicamente que se a
promessa não fosse cumprida ele voltaria ao jejum e não estaria sozinho.
Esgotadas e infrutíferas foram todas as tentativas. Dessa forma ele retomou o jejum esta
manhã (27) na Capela de São Francisco,
em Sobradinho (BA), ao pé da barragem de Sobradinho. Revelando todo o estado de mingua
em que se encontra o São Francisco – o imenso lago vem diminuindo suas reservas e
nesse momento se encontra com menos de 14% da sua capacidade.
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